Fibras Alimentares x Obesidade Infantil

A obesidade infantil é uma realidade em todo o mundo e, segundo dados publicados na revista The American Journal of Nutrition (2017), pode elevar o risco de obesidade na vida adulta. Por isso, alternativas de manejo do peso durante a infância e adolescência são importantes para garantir mais saúde e prevenir doenças. 

Continue lendo o post e saiba como os prebióticos (fibras alimentares que servem de alimento para as bactérias intestinais “do bem” chamadas de probióticas) podem ser aliados no controle do peso de crianças obesas.

Inserção de fibras na dieta

Na idade adulta, as estratégias para perda de peso incluem dietas restritivas de certos alimentos bem como a redução da ingestão calórica. Todavia, essas alternativas são pouco eficazes em crianças e podem até mesmo promover o ganho de peso através da compulsão alimentar e do aumento pelo “desejo” por alimentos “proibidos”, e por outro lado, dietas restritivas em crianças podem levar à déficit de vitaminas, sais minerais, proteínas e gorduras do bem chamadas poliinsaturadas (ômega 6 e ômega 3) (HUME,2017).

Nas populações pediátricas, sugere-se a adição de alimentos nutritivos e ricos em fibras que apresentem potencial para prevenção do risco de obesidade (HUANG, 2015).

Parnell e colaboradores (2009) já haviam demonstrado, em adultos, que o aumento da ingestão de fibras, principalmente as fibras prebióticas, estimula os hormônios da saciedade, melhora o controle do apetite e, consequentemente, a manutenção do peso saudável. Conforme este autor, os prebióticos têm a capacidade de reduzir a ingestão de alimentos muito energéticos (pesados), assim como a gordura corporal em indivíduos obesos.

Prebióticos e o efeito sobre o peso corporal de crianças

Prebióticos são substâncias que estimulam o crescimento de microrganismos intestinais “do bem” ou probióticos, trazendo benefícios ao indivíduo (SLAVIN, 2013).  

Segundo o estudo publicado na revista Nutrients (2013), diversas fontes de prebióticos contribuem para a saúde digestiva devido ao processo de fermentação pela microbiota intestinal (flora intestinal).

Além desses efeitos, os prebióticos podem ainda influenciar na redução do peso corporal de crianças obesas. 

Um dos primeiros estudos a fazer esta relação foi o de Abrams (2007), que teve por objetivo avaliar os efeitos da suplementação de fibras prebióticas através de uma mistura patenteada de frações específicas dos prebióticos inulina e frutooligossacarídeos (FOS) chamado de Orafti® Synergy1, juntamente com a ingestão de cálcio da dieta, sobre as alterações da composição corporal de 97 adolescentes durante um ano. 

O autor observou que os jovens que receberam a suplementação de 8 g/dia durante 1 ano e ingeriram mais de 700 mg/dia de cálcio obtiveram, além dos benefícios da mineralização óssea, a manutenção do ganho de peso apropriado para a idade em relação ao grupo placebo. 

O aumento do índice de massa corporal (IMC) normal, durante a puberdade, deve ficar em torno de 0,6 a 0,8 kg/m2. Dentre o grupo que recebeu a fibra, o IMC foi, em média, de 0,7 kg/m2 (dentro da normalidade), enquanto o grupo controle apresentou um aumento de 1,2 kg/m2 (acima do normal), ou seja, o grupo que recebeu as fibras prebióticas ganhou um peso menor.

Um estudo recente publicado na revista Gastroenterology (2017) avaliou os benefícios de uma suplementação a base de prebióticos 8 g/dia de uma mistura específica de inulina/frutooligossacarídeos, em 38 crianças obesas ou com sobrepeso, durante 16 semanas. 

Foi observado que as crianças que receberam a mistura prebiótica apresentaram uma desaceleração significativa no ganho de peso comparado ao grupo placebo durante as 16 semanas de tratamento (2,4 x menos), normalizando o ganho de peso das crianças.

Além disso, o grupo que recebeu as fibras ainda obteve uma série de outros benefícios estatisticamente significativos em relação ao grupo placebo, como: 

  • Redução do percentual de gordura corporal (-2,4%)
  • Manutenção do ganho de massa magra
  • Redução da gordura abdominal (-3,8%)
  • Redução dos níveis de triglicerídeos (-19%)
  • Aumento das espécies benéficas de microorganismos do gênero Bifidobacterium spp (probióticas). (NICOLUCCI, 2017).

Esta normalização do ganho de peso pode ser atribuída, em parte, ao controle do apetite, conforme observado no estudo de Hume e colaboradores (2017). Neste estudo,  o grupo que recebeu 8 g/dia da mistura de inulina/frutooligossacarídeos apresentou uma redução significativa do apetite e menor consumo de alimentos após 16 semanas, em comparação com o início do estudo. Além disso, observou-se uma redução média da ingestão de energia de 113 kcal no grupo que consumiu as fibras, enquanto o grupo placebo apresentou um aumento médio de 137 kcal ao final das 16 semanas, portanto, com uma ingestão calórica menor, ganha-se menos peso (HUME et al., 2017).

Logo, os autores sugerem que a inclusão de fibras prebióticas na dieta das crianças, especialmente aquelas com sobrepeso ou obesas, melhora a microbiota intestinal e pode auxiliar a normalizar o ganho de peso infantil, através da regulação do apetite, redução do ganho de massa gorda e manutenção do ganho de massa magra.

Onde encontrar?

Fontes de fibras podem ser encontradas na dieta através da ingestão de alimentos como vegetais (couve-flor, brócolis), grãos (feijão, lentilha), cereais integrais (trigo, arroz) e frutas (maçã, abacate, pera e goiaba). 

Além disso, suplementos à base de fibras como inulina, frutooligossacarídeos (FOS) e polidextrose podem ser uma alternativa para garantir o incremento da saciedade e evitar o aumento de peso. 

Lembre-se: é muito importante consultar um médico ou nutricionista antes de iniciar qualquer tipo de suplementação para garantir a melhor opção para o seu caso.

Autor: Tadeu Fernando Fernandes
CRM – SP – 46876 RQE nº 55494
Especialista em Pediatria pela Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) e Associação Médica Brasileira (AMB)
Especialização em Early Nutrition (ENS) pela Ludwig-Maximilians University Munich

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