Microbiota intestinal e Doença de Crohn: qual a relação?

A doença de Crohn é um subtipo da Doença Inflamatória Intestinal e apresenta crescente incidência nas últimas décadas. A chamada disbiose (desequilíbrio da população microbiana intestinal) foi sugerida como um fator importante no desenvolvimento da doença (KHANNA, 2017). Continue lendo e saiba o porquê!

Sobre a doença de Crohn

A Doença de Crohn é caracterizada por uma inflamação sistêmica que afeta principalmente o trato gastrointestinal – conforme Baumgart (2012). Além disso, apresenta origem multifatorial que inclui fatores genéticos e ambientais que resultam em alterações imunológicas e consequente inflamação (DE SOUZA, 2016). Destacam-se os seguintes sintomas da doença: Dor, febre, diarreia sanguinolenta ou com muco. Embora as causas da doença não estejam completamente esclarecidas, acredita-se que, em indivíduos suscetíveis, uma resposta imunológica contra os micro-organismos intestinais esteja relacionada ao processo inflamatório inerente a doença (STEED, 2017).

Qual o efeito na microbiota?

A microbiota intestinal humana é constituída por mais de 100 trilhões de microrganismos e serve como um componente importante na patogênese da doença de Crohn (KHANNA  2017). Em um estudo publicado na revista Nature Reviews Gastroenterology Hepatology (2014), a microbiota fornece estímulos ao hospedeiro, sendo que composições microbianas alteradas (a chamada disbiose), quando em hospedeiros geneticamente suscetíveis, pode ocasionar inflamação do intestino e desenvolvimento da doença de Crohn. Sendo assim, os autores defendem que a disbiose microbiana esteja diretamente associada ao desenvolvimento ou à exacerbação da doença.
Indivíduos com Doença de Crohn possuem menor diversidade bacteriana em sua microbiota intestinal – fator importante na patogênese da doença, segundo dados publicados na revista Gastroenterology Clinics North America (2017). Estudos de Chassaing (2011) indicaram que a microbiota intestinal de pacientes com doença de Crohn apresentam número aumentado de micro-organismos patogênicos (Escherichia coli, Campylobacter) em relação às espécies comensais (bactérias benéficas). Conforme os autores, o estímulo dessas bactérias patogênicas na mucosa intestinal induz à  resposta imunológica que resulta na inflamação do intestino.

Probióticos como aliados

Com base na disbiose intestinal como potencial contribuinte para a doença de Crohn, sugeriu-se que a administração de probióticos poderia ser benéfica no tratamento. O emprego de micro-organismos benéficos ajuda de fato a diversificar a comunidade microbiana equilibrando-a e melhorando a doença (KHANNA, 2017).
Estudo de Fujimori (2007), envolvendo probióticos como Lactobacillus e Bifidobacterium, juntamente com o uso de fibras, observou melhora dos sintomas em 7 dos 10 pacientes com Doença de Crohn. Outro estudo envolvendo 35 pacientes com a doença e tratados com Bifidobacterium longum e inulina/oligofrutose (Orafti Synergy1) demonstrou que 62% apresentaram melhora nos sintomas e remissão em comparação aos 45% do grupo controle (STEED, 2010).

Terapias de restauração da microbiota

Tendo em vista a relação do desequilíbrio da microbiota intestinal com a Doença de Crohn, terapias de restauração da microbiota podem ser úteis no tratamento, conforme Khanna (2017). Por exemplo, a transferência de microbiota fecal (TMF) tem surgido como uma opção terapêutica em potencial para doenças que envolvem uma desordem da microbiota.  Além disso, na Doença de Crohn e em doenças autoimunes, há um viés de maior complexidade que envolve tanto a genética como a interação do hospedeiro com sua própria microbiota (DE SOUZA, 2016). Desta forma, o objetivo deste método para a doença de Crohn é justamente corrigir a disbiose e restaurar um diálogo normal entre o sistema imune do hospedeiro e a microbiota. A técnica de TMF já é usada com sucesso na infecção recorrente por Clostridium difficile e pode conduzir à cura em 90% dos casos, conforme dados de Van Nood (2013). O uso de probióticos (micro-organismos benéficos) e prebióticos (fibras) para aumentar o número de espécies intestinais benéficas também parece ser uma alternativa promissora (CHASSAING, 2011).
Não foi totalmente elucidada a origem exata da perturbação da microbiota que leva ao aparecimento da doença de Crohn. Todavia, a disbiose por si só leva a interações anormais entre a microbiota e o hospedeiro (indivíduo) que pode agravar ainda mais os sintomas quando a doença está ativa – conforme Khanna (2017). O controle da inflamação e a modulação da microbiota são potenciais no tratamento da Doença de Crohn e nesse cenário os probióticos e prebióticos podem ser aliados na restauração do equilíbrio e da saúde! Mas lembre-se: sempre consulte um médico ou nutricionista antes de iniciar qualquer tipo de suplementação para receber a indicação adequada para o seu caso.

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ver Referências

BAUMGART M. et al. Culture independent analysis of ileal mucosa reveals a selective increase in invasive Escherichia coli of novel phylogeny relative to depletion of Clostridiales in Crohn’s disease involving the ileum. ISME J. v.1, n.5, p.403–18. 2007.CHASSAING B. et al. The commensal microbiota and enteropathogens in the pathogenesis of inflammatory bowel diseases. Gastroenterology, v.140, n.6, p.1720–8. 2011.
DE SOUZA H.S.et al. Immunopathogenesis of IBD: current state of the art. Nat Rev Gastroenterol Hepatol, v.13, n.1, p.13–27. 2016.
FUJIMORI S et al.High dose probiotic and prebiotic cotherapy for remission induction of active Crohn’s disease. J Gastroenterol Hepatol, v.22, n.8, p.1199–204. 2007.
KHANNA S. LEE F. The Microbiome in Crohn’s Disease: Role in Pathogenesis and Role of Microbiome Replacement Therapies. Gastroenterol Clin North Am. v.46, n.3, p.481-492.2017.
SARTOR R.B. Microbial influences in inflammatory bowel diseases. Gastroenterology, v.134, n.2, p.577–94. 2008.
STEED H. et al. Clinical trial: the microbiological and immunological effects of synbiotic consumption: a randomized double-blind placebo- controlled study in active Crohn’s disease. Aliment Pharmacol Ther v.32, n.7, p.872–83, 2010.
VAN NOOD E. et al. Duodenal infusion of feces for recurrent. Clostridium difficile. N Engl J Med, v.368, n.22, p.2145. 2013.