Queda capilar e o estresse: qual a relação?

Além dos fatores genéticos, agressão química e térmica, o estresse pode contribuir significativamente para queda capilar. A perda de cabelos geralmente é angustiante e, embora não ameace a vida, pode afetar significativamente a qualidade de vida do indivíduo. Quer saber como o estresse afeta a perda capilar e se é possível driblá-la? Continue lendo o post e saiba mais!

Queda capilar: causas e consequências

Embora não seja uma condição médica grave, os indivíduos afetados pela perda de cabelos sofrem de grande estresse psicoemocional como vergonha, raiva, frustração, tristeza, depressão¹. Esses sentimentos podem levar à redução da qualidade de vida e até mesmo a morbidades secundárias. Portanto, pacientes com queda capilar requerem um tratamento cuidadoso que envolve, além da prescrição de medicamentos, ações para aliviar os sintomas clínicos e psicológicos decorrentes do estresse¹.

Os cabelos possuem ciclos de crescimento e queda normais, todavia questões hormonais (como gravidez e distúrbios endócrinos), desnutrição, falta de vitaminas, agressões químicas, térmicas (secador, chapinha) podem estimular a perda capilar. Além desses fatores, o estresse pode intensificar esse efeito, já que interfere no ciclo de atividade dos folículos pilosos, antecipando o fenômeno de queda²

Conforme a Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD), a alopecia androgenética, por exemplo (conhecida também como calvície), trata-se de uma forma de queda de cabelos geneticamente determinada. Tanto homens como mulheres podem ser afetados por esta queda capilar por volta dos 40 ou 50 anos, apesar de se iniciar ainda na adolescência, quando do estímulo hormonal que faz com que os fios fiquem progressivamente mais finos³

Já, o chamado eflúvio telógeno é uma alopecia não inflamatória de início repentino e com incidência semelhante entre os sexos. Ocorre quando um grande número de cabelos entra na fase telógena (última fase do ciclo) e cai três a cinco meses após um evento de estresse natural ou emocional². Portanto, o estresse pode atuar como um determinante no estímulo da perda capilar. 

O estresse e a perda capilar

Um estudo norte-americano realizado em 2012 com 98 gêmeas idênticas, observou fatores ambientais estão possivelmente relacionados à perda de cabelo feminina, como níveis de testosterona, estresse psicológico, hipertensão, diabetes mellitus, tabagismo, falta de fotoproteção, renda e prática de atividade física⁴

Após eventos estressantes, o organismo libera substâncias químicas chamadas de citocinas que regulam respostas imunológicas fazendo com que células epiteliais sejam levadas à apoptose (morte) e na consequente interrupção prematura do crescimento capilar⁵. Estudos envolvendo camundongos comprovaram que o estresse exerce importantes efeitos pró-inflamatórios prejudiciais aos cabelos causando queda⁶. O estresse resultante da perda de cabelo, pode levar a uma perpetuação da queda capilar originando um “círculo vicioso” de causa e efeito: queda capilar causa estresse o qual incentiva a continuidade da queda⁷.

Outro estudo observou que ratos expostos à barulho intermitente por 24 h, ficaram irritados e estressados –  o que gerou inibição do crescimento capilar⁷. Tendo em vista que o cabelo cresce em três fases: anágeno (crescimento ativo, cerca de 90% dos cabelos), catágeno (degeneração, menos de 10% dos cabelos) e telógena (repouso, 5%) é na última fase que ocorre maior parte da queda⁸. Neste sentido, um estudo molecular em modelos animais evidenciou que o estresse psicológico pode atuar no ciclo folicular do cabelo, acelerando a transição para a fase telógena e provocando redução do folículo e posterior queda⁸. Com base nisso, os autores sugerem que as supressões dos hormônios relacionados ao estresse poderiam ser úteis para reverter esses efeitos⁸.

Como evitar?

Embora os cabelos não exerçam uma função biológica vital, eles são de grande importância para a aparência, autoestima do indivíduo, além da função de identidade social, conforme Ramos (2015)⁹. Para as mulheres, especificamente, ter cabelos saudáveis e de boa aparência, ​​envolve sentimentos de autoestima e interação social. Conforme estudo realizado no Brasil em 2012, o medo de perder todos os cabelos era tão grande quanto o medo de sofrer um infarto do miocárdio¹⁰.

Tendo em vista que os micronutrientes são elementos importantes no ciclo normal dos folículos capilares, como renovação celular, uma alimentação equilibrada é essencial para manter a saúde dos fios¹¹. Além disso, boa qualidade de vida física, psicológica e mental auxiliam na prevenção do estresse e consequente queda capilar. Em alguns casos, suplementação ou medicamentos podem ser aliados, mas lembre-se: sempre consulte seu médico, nutricionista ou farmacêutico antes de iniciar qualquer suplementação. 

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ver Referências

¹HADSHIEW I. et al. Burden of Hair Loss: Stress and the Underestimated Psychosocial Impact of Telogen Effluvium and Androgenetic Alopecia. Journal of Investigative Dermatology. v.123, n. 3, p.455–457. 2004. 

²PHILLIPS T.G. et al. Hair Loss: Common Causes and Treatment. Am Fam Physician.  v.96, n.6, p.371-378.2017. 

³Sociedade Brasileira de Dermatologia, SBD. disponível em: https://www.sbd.org.br/dermatologia/cabelo/doencas-e-problemas/alopecia-androgenetica/25/

⁴GATHERWRIGHT J. et al. The contribution of endogenous and exogenous factors to female alopecia: a study of identical twins. Plast Reconstr Surg.  v.130, p.1219-26.2012.

⁵PETERS E. Hair and stress: A pilot study of hair and cytokine balance alteration in healthy young women under major exam stress. PLoS One. v.12, n.4, e0175904. 2017.  

⁶ARCK, P.C. et al. Stress inhibits hair growth in mice by induction of premature catagen development and deleterious perifollicular inflammatory events via neuropeptide substance P-dependent pathways. Am J Pathol. v.162, p. 803–814.2003.

⁷THOM E. Stress and the Hair Growth Cycle: Cortisol-Induced Hair Growth Disruption. J Drugs Dermatol. v.15, n.8, p. 1001-1004. 2016. 

⁸SCHMITT J.V. et al. Hair loss perception and symptoms of depression in female outpatients attending a general dermatology clinic. An. Bras. Dermatol. v.87 n.3, 2012. 

⁹RAMOS P.M. et al. Female Pattern Hair Loss: a clinical and pathophysiological review. An. Bras. Dermatol. v.90 n.4, 2015.

¹⁰PENHA M.A et al. Dimensioning the fear of dermatologic diseases. An Bras Dermatol. 2012;87:796-9.

¹¹ALMOHANNA H. et al. The Role of Vitamins and Minerals in Hair Loss: A Review. Dermatol Ther (Heidelb). v.9, n.1, p. 51–70. 2019.