Você conhece a relação entre a Microbiota Intestinal e a Colite Ulcerativa?

Colite ulcerativa é uma doença inflamatória que afeta principalmente a região do cólon e reto. Entre as possíveis causas da doença estão fatores genéticos, ambientais e desordens no sistema imunológico, segundo Actis (2016). Além disso, dados publicados na revista World Journal of Gastroenterology (2018) relatam que a disbiose intestinal pode contribuir para a patogênese da colite ulcerativa, pois altera o metabolismo intestinal desencadeando a inflamação. Saiba como, neste post!

Colite Ulcerativa: o que é?

A Colite Ulcerativa é uma doença crônica inflamatória que atinge, na maioria das vezes, adultos entre 30 e 40 anos – conforme Shapiro (2016). Os sintomas incluem  diarreia sanguinolenta, aumento da frequência de evacuações, desconforto abdominal e fadiga (UNGARO, 2017). O diagnóstico é realizado por observação dos sintomas, exame de colonoscopia e através de achados histológico (DIGNASS, 2012). Também, é comumente realizado o exame de fezes (cultura e ensaio de Clostridium difficile) para descartar infecções sobrepostas entéricas. Já o tratamento envolve medicamentos esteróides e imunossupressores (em casos moderados e severos), sendo a colectomia (retirada parcial ou total do reto) necessária em 15% dos casos (MAGRO, 2012).
Em relação à epidemiologia, a prevalência é maior na Europa (505 em 100.000) e no Canadá (248 em 100.000). Ainda há poucos dados sobre a incidência em países em desenvolvimento, mas a ocorrência é crescente também na América do Sul, como no Brasil (VICTORIA, 2009).  Entre  8% -14% dos pacientes com colite ulcerativa apresentam histórico familiar de doença inflamatória intestinal e os seus filhos apresentam 4 vezes maior risco de desenvolver a doença, de acordo com Moller (2015).
Segundo dados publicados na revista American Journal of Gastroenterology (2016), a remoção do apêndice parece ter efeito protetivo contra colite ulcerativa, principalmente quando feita em pacientes jovens. Pacientes com colite ulcerativa ativa apresentam cólon pobre em células caliciformes e uma barreira de muco permeável – sugerindo que defeitos de função de barreira seja um impulsionador da doença, conforme Johansson (2014).

Microbiota Intestinal: o que a compõe?

A chamada microbiota intestinal é composta por bactérias benéficas e putrefativas que, quando em equilíbrio, trazem benefícios ao hospedeiro (MAKKI, 2018). As bactérias intestinais são distribuídas principalmente no cólon e no intestino delgado, sendo que a maioria vive na superfície da mucosa intestinal – dados de Shen (2018). Conforme este autor, essas bactérias se ligam à superfície das células epiteliais intestinais para formar uma camada de biofilme bacteriano, que afeta o metabolismo intestinal de nutrientes, a permeabilidade intestinal e o sistema imunológico do indivíduo.
Também, neste mesmo estudo, verifica-se que a microbiota intestinal pode ser dividida em três categorias de acordo com sua função no organismo: as bactérias fisiológicas são dominantes no intestino (Bifidobacterium, Bacteroides e Peptococcus) e desempenham papéis importantes na nutrição e regulação imunológica;  as bactérias patogênicas condicionais, que habitam o hospedeiro e são bactérias intestinais não dominantes (Enterococcus e Enterobacter), são consideradas inofensivas quando em equilíbrio; e as bactérias  patogênicas (Proteus e Pseudomonas), que apresentam uma proliferação rara quando o organismo está em equilíbrio. Todavia, alterações no ambiente enteral podem resultar num declínio da microbiota intestinal e no consequente desequilíbrio, aumentando os patógenos condicionais e causando a doença.

Colite Ulcerativa e microbiota: qual a relação?

A patogênese da Colite Ulcerativa é complexa e a interação entre o hospedeiro e a microbiota intestinal pode ser um fator importante – conforme dados publicados na revista World Journal of Gastroenterology (2018). Como demonstra este estudo, o sistema imunológico do hospedeiro, em condições normais, impede a invasão de bactérias nocivas, enquanto tolera a microbiota normal, porém, se a microbiota estiver desequilibrada (disbiose), a imunidade fica comprometida, podendo causar respostas inflamatórias intestinais. Além disso, Shen (2018) defende que a liberação de enterotoxina aumenta a permeabilidade da mucosa intestinal e a produção de proteína imunossupressora, que por sua vez resulta em disfunção imunológica. Portanto, o crescimento exagerado de algumas bactérias afeta o metabolismo, desencadeando inflamação intestinal e danos na mucosa.
A disbiose é observada em pacientes com doença de Crohn e Colite Ulcerativa (em menor grau), conforme Andoh (2011). A diminuição da biodiversidade, com menor proporção de Firmicutes e aumento de Enterobacteriaceae, tem sido relatada em pacientes com colite ulcerativa, porém não está claro se a disbiose é a causa ou efeito da inflamação da mucosa intestinal (UNGARO, 2017).

Quais bactérias estão relacionadas?

Algumas bactérias benéficas parecem estar diminuídas em pacientes com Colite Ulcerativa, conforme Bajer (2017). Além disso, vários patógenos microbianos estão possivelmente relacionados à inflamação intestinal como o Mycobacterium, Escherichia coli aderente invasiva, Clostridium difficile, Helicobacter, Salmonella, Yersinia, Fusobacterium, norovírus e a Listeria, segundo Shen (2018).

E os probióticos?

Tendo em vista que a disbiose pode ser um desencadeador ou agravante do estado de colite ulcerativa, o emprego de probióticos pode ser uma alternativa para manter o equilíbrio da microbiota intestinal. Dados de Tompkins (2010) demonstraram que uma mistura probiótica a base de E. faecium e Bacillus subtilis reduziu o número de dias com fezes sanguinolentas e aumentou o tempo entre as defecações em relação ao grupo controle (enemas de retenção a base de extratos vegetais). Estudo com o probiótico à base de Escherichia coli Nissle (uma cepa não patogênica de E. coli) se mostrou eficaz tanto para induzir a remissão em pacientes com colite ulcerativa como na manutenção da remissão por pelo menos 1 ano – conforme Fedorak (2010). Segundo o mesmo autor, outra combinação com 8 probióticos (Bifidobacterium breve, B. longum, B. infantis, Lactobacillus acidophilus, L. plantarum, L paracasei, L. bulgaricus e Streptococcus thermophilus) foi eficaz para induzir remissão em pacientes com a doença e manter o benefício ao longo de 24 semanas. Mas lembre-se de sempre consultar um médico ou nutricionista antes de iniciar qualquer tipo de suplementação,  isto é fundamental para que você receba a orientação correta para seu caso.

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ver Referências

ACTIS G.C. The pathologic galaxy modulating the genotype and phenotype of inflammatory bowel disease: comorbidity, contiguity, and genetic and epigenetic factors. Minerva Med. v.107, p.401–412.2016.
ANDOH A. et al. Comparison of the fecal microbiota profiles between ulcerative colitis and Crohn’s disease using terminal restriction fragment length polymorphism analysis. J Gastroenterol, v.46, p. 479–86, 2011.
BAJER L. et al. Distinct gut microbiota profiles in patients with primary sclerosing cholangitis and ulcerative colitis. World J Gastroenterol, v. 23, n.25, p.4548-4558. 2017.
DIGNASS A. et al. Second European evidence-based consensus on the diagnosis and management of ulcerative colitis part 1: definitions and diagnosis. J Crohns Colitis v.6, p. 965–90. 2012.
FEDORAK R.N. Probiotics in the Management of Ulcerative Colitis. Gastroenterol Hepatol, v. 6, n.11, p. 688–690. 2010.
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MAKKI K. et al. The Impact of Dietary Fiber on Gut Microbiota in Host Health and Disease. Cell Host Microbe, v.23, n.6, p.705-715. 2018.
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