Você sabe como as fibras podem auxiliar no tratamento de desordens gastrointestinais em crianças?

Desordens gastrointestinais (DGI) em crianças são mais comuns do que se imagina, sendo consideradas um problema de saúde pública, conforme dados publicados na revista Nutrients (2018). Mas de que forma estas desordens afetam a vida das crianças e como evitá-las? Continue lendo o post e saiba mais!

Causas e consequências

As desordens intestinais funcionais podem afetar até 20% da população pediátrica no mundo, segundo dados publicados na revista Gastroenterology (2016). Os autores afirmam que essas desordens na infância incluem a Constipação Funcional (CF) e a Síndrome do Intestino Irritável (SII). Estima-se que 1 em cada 16 crianças em idade escolar têm diagnóstico de SII – muitas vezes associado à constipação (DEVANARAYANA, 2018).  Além disso, uma meta-análise publicada na revista The Journal of Pediatrics (2018), observou que a prevalência de constipação nas crianças foi de 9,5%, indicando também os fatores hereditários e ambientais como influenciadores para o desenvolvimento dessas condições.
Os sintomas das desordens gastrointestinais são: Evacuações frequentes ou constipação, dor abdominal ao defecar, alterações na frequência e consistência das fezes e até mesmo enxaqueca (MONASTEROLO, 2017). Cerca de 40% das crianças desenvolvem sintomas gastrointestinais ainda durante o primeiro ano de vida (HYMAN, 2006), e mais de 30% continuam apresentando os problemas após a adolescência (BONGERS, 2010).
Esses distúrbios gastrointestinais estão associados à ansiedade, à menor qualidade de vida (social, emocional) e ao sedentarismo (VARNI, 2016). Além disso, fatores como estresse, inflamação intestinal, anormalidades na microbiota intestinal (disbiose), genética e dieta podem aumentar as chances de desenvolver essas desordens (CHUMPIATAZI, 2016). Conforme Carlson (2014), na maioria das crianças com distúrbios intestinais, a dieta é um fator determinante: Em torno de 90% indicam algum alimento associado à piora dos sintomas gastrointestinais.

O que fazer?

Mudanças no estilo de vida como maior ingestão de líquidos e fibras são amplamente recomendados por gastroenterologistas pediátricos em casos de constipação infantil (YANG, 2006). As fibras solúveis são fermentadas no cólon e absorvem água, formando uma espécie de gel após a digestão e isso faz com que as fezes se tornem mais macias, facilitando a evacuação, Axelrold (2018). Segundo o autor, exemplos de fontes de fibras benéficas neste sentido incluem fibra de ervilha, trigo, arroz, batata, soja.
Os resultados do tratamento da Constipação Funcional e Síndrome do Intestino Irritável Infantil não são totalmente efetivos. Conforme Bongers (2009), uma em cada quatro crianças com CF e SII continua a apresentar os sintomas desses distúrbios até a idade adulta.  Além disso, estima-se que grande parte dos pais não seguem totalmente as recomendações fornecidas, principalmente quando envolvem medicamentos laxativos (apenas 37% dos pais concordam com essa prática, segundo Cooper, 2018). Portanto, cresce o desejo por tratamentos mais naturais e com menores efeitos adversos, segundo Gordon (2016). Alguns exemplos de fibras solúveis disponíveis em alimentos e também sob a forma de suplemento alimentar infantil são: Inulina, frutooligossacarídeo, oligossacarídeos, polidextrose.

Inulina

Inulina é um polissacarídeo presente em alimentos como aspargos, chicória, alho, cebola e alcachofra (HUGHES, 2017) e demonstrou ser efetivo na manutenção da saúde intestinal. Uma meta-análise de Collado (2014) envolveu ensaios clínicos randomizados com indivíduos adultos e pediátricos e observou melhora da frequência e consistência das fezes dos pacientes após suplementação com inulina. Além disso, Monasterolo (2017) avaliou o efeito da inulina em crianças com constipação (2 – 5 anos de idade) e evidenciou melhora na consistência das fezes e na frequência das evacuações de crianças após tratamento com inulina (4 g/dia) por 6 semanas.

Polidextrose e Frutooligossacarídeo

A polidextrose é um oligossacarídeo não digerível que apresenta efeitos fisiológicos benéficos ao organismo além do potencial prebiótico (CARMO, 2016). Por isso, promove o crescimento seletivo de bactérias intestinais benéficas à saúde gastrointestinal. Os frutooligossacarídeos também exercem efeitos positivos sob a microbiota intestinal, como a redução da incidência de infecções gastrointestinais e o efeito bifidogênico – através da proliferação de bifidobacterias benéficas ao organismo (MALTOS, 2016).
Estudo de Basturk (2017) avaliou, durante 4 semanas, jovens entre 4 e 18 anos com diagnóstico de constipação crônica após suplementação diária com 2 g de fibras prebióticas contendo polidextrose, frutooligossacarídeo e galactooligossacarídeo. Conforme os autores, foi possível observar melhora na frequência e consistência das fezes, diminuição da dor abdominal e dos sangramentos, sugerindo o potencial benéfico dessas fibras no manejo da constipação infantil. Além disso, outro estudo envolvendo crianças de 4 a 12 anos indicou melhora na frequência das evacuações, tempo de trânsito intestinal e redução dos efeitos adversos após 4 semanas de suplementação contendo fibras como fructooligosacarideo e inulina (WEBER, 2014).

Oligossacarídeos

Galacto-oligossacarídeo (GOS) trata-se de fibra alimentar solúvel com capacidade de aumentar o peso fecal e a água nas fezes (AXELROLD, 2018). Estudo publicado na revista The Journal of Pediatrics (2015) analisou os efeitos do tratamento com essa fibra em quadros de constipação infantil em crianças de 4 a 12 anos, evidenciando melhora dos sintomas. Conforme os autores, vinte crianças receberam GOS (1,7 g/dia) por trinta dias para avaliar as mudanças dos sintomas de constipação. A ingestão desta fibra resultou em melhoras significativas dos sintomas (em relação ao grupo controle sem a fibra), como alívio do esforço durante evacuação, melhora na consistência das fezes e do movimento intestinal, além de não causar nenhum efeito colateral (BELELI, 2015).
Quando as fibras não são obtidas de forma suficiente através da dieta, a suplementação com fibras pode ser uma opção saudável. Mas lembre-se: Sempre consulte um médico ou nutricionista antes de iniciar qualquer tipo de suplementação e garanta a melhor indicação para seu caso!

Gostou do post? Quer saber mais? Clique aqui. Quer conhecer os produtos da Megalabs? Clique aqui.

ver Referências

AXELROD C and SAPS M. The Role of Fiber in the Treatment of Functional Gastrointestinal Disorders in Children. Nutrients. v.10, n.11, p. 1650. 2018.
AXELROD C.H et al. The Role of Fiber in the Treatment of Functional Gastrointestinal Disorders in Children. Nutrients. v.10, n.11. 2018
BASTURK A. et al. Investigation of the efficacy of synbiotics in the treatment of functional constipation in children: A randomized double-blind placebo-controlled study. Turk J Gastroenterol v.28, p.388-93, 2017.
BELELI C.A. et al. Effect of 4’galactooligosaccharide on constipation symptoms. J. Pediatr. v.91, p.567–573. 2015.
BONGERS M.E. et al. Health-related quality of life in young adults with symptoms of constipation continuing from childhood into adulthood. Health Qual. Life Outcomes. v.7, p.20, 2009.
BONGERS MEJ. et al. Long-term prognosis for childhood constipation: clinical outcomes in adulthood. Pediatrics. v.126, 2010.
CARLSON MJ. et al. Child and parent perceived food-induced gastrointestinal symptoms and quality of life in children with functional gastrointestinal disorders. J Acad Nutr Diet, v.114, n.3, p.403–13. 2014.
CARMO M.M.R. et al. Polydextrose: Physiological Function, and Effects on Health. Nutrients., v. 8,n.9, p. 553. 2016.CHUMPIATAZI BP et al. Underlying molecular and cellular mechanisms in childhood irritable bowel syndrome. Mol Cell Pediatr, v.3, n.1, p.11. 2016.
CHUMPITAZI B.P. Update on Dietary Management of Childhood Functional Abdominal Pain Disorders. Gastroenterol Clin North Am. v.47, n.4, p.715-726. 2018.
DEVANARAYANA M.N. et al. Irritable bowel syndrome in children: Current knowledge, challenges and opportunities. World J. Gastroenterol.v.24, p.2211–2235. 2018.
GORDON M. et al. Osmotic and stimulant laxatives for the management of childhood constipation. Cochrane Database Syst. Rev. v.17, 2016.
HUGHES S.R. et al. Utilization of inulin-containing waste in industrial fermentations to produce biofuels and bio-based chemicals. World J. Microbiol. Biotechnol. v.33, p.78, 2017.
HYAMS JS et al. Functional disorders: children and adolescents. Gastroenterology, v.150, p.1456–68. 2016.
HYMAN PE. et al. Childhood functional gastrointestinal disorders: neonate/toddler. Gastroenterology. v.130, p.1519–1526. 2006.
KOPPEN I.J. et al. Prevalence of Functional Defecation Disorders in Children: A Systematic Review and Meta-Analysis. J. Pediatr. v.198, p.121–130, 2018.
KOPPEN I.J.N. et al. Adherence to Polyethylene Glycol Treatment in Children with Functional Constipation Is Associated with Parental Illness Perceptions, Satisfaction with Treatment, and Perceived Treatment Convenience. J. Pediatr. v.199, p.132–139, 2018.
MALTOS D. A. et al. Biotechnological production and application of fructooligosaccharides. Critical Reviews in Biotechnology. v.36, n.2. 2016.
MONASTEROLO R. et al. The use of inulin-type fructans improves stool consistency in constipated children. A randomised clinical trial: Pilot study. Int. J. Food Sci. Nutr. v.68, p.587–594, 2017.
VARNI J.W. et al. Health-related quality of life in pediatric patients with irritable bowel syndrome: A comparative analysis. J. Dev. Behav. Pediatr. v.27, p.451–458, 2006.
WEBER T.K. et al.Dietary fiber mixture in pediatric patients with controlled chronic constipation. J Pediatr Gastroenterol Nutr.v.58, p.297-302. 2014.
YANG C.H. et al Practice patterns of pediatricians and trainees for the management of functional constipation compared with 2006 NASPGHAN guidelines. J. Pediatr. Gastroenterol. Nutr.v.60, p.308–311. 2015.