Você sabia que o uso de contraceptivos orais pode reduzir os níveis de folatos?

Os folatos desempenham um papel muito importante no organismo, como a produção de células sanguíneas e a formação adequada do tubo neural do bebê, no período gestacional. Nesta etapa, a necessidade de folatos no organismo da mulher aumenta para suprir às demandas da futura mamãe e do feto. Mas você sabia que o uso contínuo de contraceptivos orais por mulheres em idade fértil também pode reduzir os níveis de folatos? Saiba como isso acontece e por que é importante manter os níveis sanguíneos adequados desta vitamina, neste post!

Folato: Por que é importante?

Os folatos (vitamina B9), conhecidos como ácido fólico ou metilfolato (sua forma ativa), participam, principalmente, da produção das purinas e pirimidinas, substâncias que compõem o DNA e, consequentemente, da multiplicação do material genético (BARUA, 2014). Por ser uma vitamina do complexo B, também auxilia no sistema imunológico, ajuda na saúde da pele e no crescimento dos cabelos e unhas. No caso de gestantes, os folatos desempenham uma função essencial: Participam da formação e do fechamento do tubo neural do bebê – que dará origem ao sistema nervoso (cérebro e medula espinhal) (MAO, 2017).
Segundo Cronin (2009), cerca de 20% das mulheres conseguem engravidar após o primeiro ciclo depois da interrupção do uso de anticoncepcionais orais e 45% engravida após os três meses seguintes. Destas, apenas 28% fazem a suplementação com folatos antes da concepção (COLAPINTO, 2012). Porém, a deficiência de folatos pode acarretar num maior risco de defeitos no tubo neural do bebê – o que ocorre geralmente nas primeiras semanas após a fecundação. Por isso, é essencial assegurar os níveis adequados da vitamina B9  ao menos três meses antes da gestação, a fim de fornecer as condições para o desenvolvimento correto do tubo neural do feto – defende Shere (2015). Conforme dados do Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) dos Estados Unidos, a malformação do tubo neural acomete cerca de 300.000 partos anualmente no mundo, sendo que a suplementação de ácido fólico poderia reduzir em até 70% essa ocorrência.

Causas da deficiência de Folatos

Conforme Zago (2013), dentre as principais causas da deficiência de folatos estão:

  • Dieta insuficiente (má alimentação ou desnutrição);
  • Consumo de bebidas alcóolicas em excesso;
  • Aumento da necessidade de folatos (gestação ou crescimento);
  • Doenças intestinais como doença celíaca ou má absorção intestinal;
  • Idade avançada;

Além dessas causas, foi sugerido que o uso prolongado de contraceptivos orais, por mulheres em idade fértil, pode reduzir os níveis de folatos no sangue (SHOJONIA, 1971; SHERE, 2015).

Contraceptivo oral e a redução de folatos

O contraceptivo hormonal oral é o medicamento mais comum em países desenvolvidos e a classe mais prescrita para as mulheres, sendo utilizado já na adolescência – conforme Palmery (2013). Seu uso mudou o paradigma da sexualidade feminina, promovendo um melhor planejamento familiar e permitindo a dissociação entre relações sexuais e gravidez (GIGLIO, 2015). Hoje, existem disponíveis no mercado diversas formulações e cujos benefícios vão além da contracepção como: Melhora da acne, da TPM, redução do fluxo menstrual, entre outros (HERTER, 2001).
Entretanto, apesar de todos estes benefícios, o estudo de Shojania (1968) foi o primeiro a evidenciar a redução dos níveis séricos de folatos em mulheres que faziam uso de contraceptivos orais em comparação ao grupo controle. Conforme a autora, o uso contínuo deste medicamento, pelo período de dois anos ou mais, reduziu o nível de folatos em comparação com mulheres que utilizaram por um ano ou menos.
Também, Shojania (1982) observou que o nível de folato retornou aos níveis normais dentro de 3 meses depois que as mulheres pararam de usar o contraceptivo oral. Conforme a autora, isso ocorre provavelmente devido ao contraceptivo oral resultar na má absorção de poliglutamatos de folato e no aumento da excreção dos folatos na urina. Além disso, sugere que este medicamento acelera o metabolismo dos folatos pela indução de enzimas que dependem deste nutriente.
Uma meta-análise publicada na revista Journal of Obstetrics and Gynaecology Canada (2015), também indicou que o uso de anticoncepcionais orais estão associados à redução significativa de folatos no sangue. O autor sugere que seja “imperativo” mulheres em idade fértil, que fazem uso de contraceptivos orais, realizarem a suplementação desta vitamina (SHERE, 2015). Mas lembre-se de sempre consultar um médico ou nutricionista antes de iniciar qualquer tipo de suplementação.

Fonte de folatos

O folato pode ser obtido através da alimentação a partir da ingestão de vegetais frescos (brócolis, espinafre), carne de fígado e frutas, porém deve-se atentar ao cozimento excessivo: este pode reduzir o nível de folatos dos alimentos (ZAGO, 2013). Quando a ingestão de folatos através da dieta não for suficiente ou quando houver necessidade de dose superior (gestação ou má absorção), a suplementação pode ser uma alternativa saudável!
Pode-se encontrar o folato na forma de “ácido fólico” (forma mais conhecida) ou como “metilfolato” (forma ativa, recentemente disponível no Brasil). Portanto, se você está com intenção de engravidar, converse com seu médico para receber a indicação adequada e garantir a formação saudável do seu bebê!

Gostou do post? Quer saber mais sobre a importância dos folatos na gestação? Clique aqui.  Quer conhecer os produtos da Megalabs? Clique aqui.

ver Referências

BARUA S. et al. Folic acid supplementation in pregnancy and implications in health and disease. J Biomed Sci. v. 21, p.77. 2014.
CASTANO P.M et al. The folate status of reproductive-aged women in a randomised trial of a folate-fortified oral contraceptive: dietary and blood assessments. Public Health Nutr v.17, n.6, p. 1375–83, 2014.
CDC Centers for Disease Control and Prevention. Preventing Neural Tube Birth Defects: A Prevention
Model and Resource Guide.
COLAPINTO C.K et al. Prevalence and correlates of folic acid supplement use in Canada. Health Rep v.23, n.2, p.39–44. 2012.
CRONIN M. et al. Rate of pregnancy after using drospirenone and other progestin-containing oral contraceptives. Obstet Gynecol v.114, n.3, p.616–22. 2009.
GIGLIO, M. R. P. et al. Contracepção Hormonal segundo a Ótica do Estudante de Medicina: Mais um Desafio para o Ensino Médico Brasileiro? Rev. Bras. Educ. Med., v. 39, n. 4, p. 502-506, 2015.
HALSTED C. H. Metabolic interactions of alcohol and folate. J. Nutr. 132: 2367S–2372S. 2002.
HERTER, L. D. et al. Anticoncepção e gestação na adolescência. Jornal de Pediatria, v. 77, supl. 2, S170-S178, 2001.
MAO B. et al. Maternal folic acid supplementation and dietary folate intake and congenital heart defects. PLoSOne. v.12, n.11, 2017.
MCARTHUR J. et al. Biological variability and impact of oral contraceptives on vitamins B6, B12 and folate status in women of reproductive age. Nutrients v.5, n.9, p.3634–45. 2013.
PALMERY M. et al. Oral contraceptives and changes in nutritional requirements. European Review for Medical and Pharmacological Sciences. v.17, p. 1804-1813, 2013.
SHERE M. et al. Association Between Use of Oral Contraceptives and Folate Status: A Systematic Review and Meta-Analysis. J Obstet Gynaecol Can v.37, n.5, p.430–438, 2015.
SHOJANIA A. M. Oral contraceptives: effect of folate and vitamin B12 metabolism. Can Med Assoc J, v.126, p. 244-247. 1982.
SHOJANIA A.M. Effect of oral contraceptives on vitamin-B12 metabolism. Lancet,.7730, 1971.
SHOJANIA AM, HORNADY G, BARNES PH. Oral contraceptives and serum-folate level. Lancet, v. 1, p. 1376-1377. 1968.
ZAGO, Marco Antônio; FALCÃO, Roberto Passetto; PASQUINI, Ricardo. Tratado de hematologia. São Paulo: Atheneu, 2013.